terça-feira, 20 de abril de 2010

CÉLULAS-TRONCO


DESCOBERTA:

No ano de 1963 o cientista do Canadá James Edgar Till em uma de suas pesquisas, descobriu, acidentalmente, que as células transplantadas da medula óssea no baço de ratos acabavam por se auto-replicarem. Esse foi o primeiro passo para mais uma alavancada da ciência na busca pela cura das doenças. Até chegar a esse experimento, James e sua equipe trabalharam muito para buscar respostas, como por exemplo: qual seria a morfologia de tais células ou com que elas se pareciam e qual seria realmente sua função. E ele não imaginava que aquilo que descobrira traria tanto impacto para a humanidade. Till, posteriormente, foi considerado o pai das células-tronco.

DEFINIÇÃO:
Células-tronco são aquelas que aparecem nos primeiros estágios de desenvolvimento de um organismo e ainda não se especializaram em nenhuma função, ou seja, são células não-especializadas. Elas são uma nova promessa que tem levado o entusiasmo para a medicina. No entanto, há controvérsias (serão vistas mais adiante). Em torno de cinco dias após a fecundação de um óvulo pelo espermatozóide, ainda não existe definido nenhum órgão ou tecido no embrião humano. Nesse momento está formado o chamado blastocisto que é um conjunto com cerca de 200 células.

A partir de certo tempo, o blastocisto se transforma em todos os tecidos do corpo, como unhas, cabelo, articulações, neurônios e sangue. No entanto, em laboratório, essas células primordiais podem ser induzidas a tornarem células com funções especiais. Assim, nos embriões essas células não passam de 200, mas por um processo fruto do avanço da ciência, elas começam a se reproduzir e a construir pele, mucosa intestinal, cérebro, fígado, córnea, polpa dentária, músculo, sangue, ou seja, todo o material celular diferenciado. Por isso as células-tronco são apelidadas de “células-curinga”: não param de causar surpresa e espanto, (Atualidades Vestibular - 2010 p. 202). As células-tronco são encontradas no cordão umbilical, nos embriões e podem também ser encontradas em partes do corpo adulto como a medula óssea e sangue. As mais versáteis são as encontradas nos embriões, uma vez que podem se modificar em diversos tipos de células no organismo humano. As menos versáteis são as células-tronco adultas, uma vez que são capazes de se transformar apenas em alguns tecidos do corpo.



OS TIPOS DE CÉLULAS-TRONCO
(categorias)

Células embrionárias: são aquelas derivadas dos blastocitos.

Células-tronco adultas: são aquelas encontradas em tecidos adultos.

Células-tronco da medula espinhal: ao passo que o embrião se desenvolve, as células-tronco podem se diferenciar em vários tipos de tecidos especializados. Em organismos adultos, essas mesmas células atuam como um sistema de reparo para o corpo, tornando a repovoá-lo de células especializadas.
No organismo humano há inúmeras células com funções determinadas. Como por exemplo, têm-se as células do pâncreas que produzem insulina, células do coração responsáveis pela contração muscular, etc. No caso das células-tronco, também há diferentes tipos delas. Vejamos:
OS TIPOS DE CÉLUAS-TRONCO
(quanto à sua capacidade de diferenciação)


Totipotentes: contêm a informação genética necessária para a produção de todas as células do corpo juntamente com a placenta, a qual nutre o embrião. Por isso são consideradas as células mestre do corpo. Elas são o produto das primeiras divisões do óvulo fertilizado.

Pluripotentes: podem originar qualquer tipo de célula, menos a placenta. São descendentes das células totipotentes.

Unipotentes: podem produzir apenas um tipo celular, mas têm propriedades de auto-renovação.

Multipotentes: originam, de maneira limitada, vários tipos de células. Exemplo (células hematopoiéticas que se diferenciam em glóbulos vermelhos, glóbulos brancos, plaquetas, dentre outras).

POSIÇÃO DE RELIGIOSOS E SEITAS SOBRE O USO DE CÉLULAS-TRONCO EM PESQUISAS



POSIÇÃO CATÓLICA:
Opinião do padre Alexandro Alves Cardoso (Paróquia São Miguel de Vitória da Conquista - BA)


“A posição central da Igreja Católica é a favor da vida. Esta opção pela vida é uma opção do evangelho e está fundamentado na proposta de Jesus quando diz “Eu vim para que todos tenham vida em abundancia”. João 10. A igreja não é contra a ciência. Ela é contra alguns métodos adotados pela ciência para obter determinados resultados. Até que ponto é válido destruir uma vida para salvar outra? As células estaminais ou células-tronco são as embrionárias e também as células adultas. Quanto ao uso das células adultas, desde que não causem prejuízo a dignidade da pessoa, a igreja não se opõe. A questão da oposição da igreja é quanto ao uso das células-tronco embrionárias porque se trata de uma vida humana. A vida humana começa no momento da fecundação”.

Entrevista concedida a revista Galileu
A ciência e a igreja católica quase nunca caminham de mãos dadas. Atualmente, o Vaticano tenta se aproximar dos biólogos, estes sim, considerados pelos líderes religiosos as ovelhas negras do rebanho científico. Não por acaso, eles são os principais responsáveis pelas pesquisas com células-tronco embrionárias e adultas.
Segundo a Pontifícia Academia Pro Vita, braço operacional do Vaticano para assuntos bioéticos, esses cientistas estão indo longe demais e atravessando uma perigosa fronteira: aquela que divide a vida e a morte de um organismo.
O uso de células-tronco de embriões - com maior versatilidade se comparadas com as extraídas de um tecido adulto - para encontrar curas de doenças como o mal de Parkinson e Alzheimer não encontra respaldo entre as autoridades eclesiásticas. "Os meios não justificam o fim e nem tudo tecnicamente possível pode ser eticamente admissível. Este é um não aos valores humanos", diz o monsenhor Jacques Suaudeau, membro do comitê científico da Academia Pro Vita.
"A própria biologia nos diz que a vida humana começa no momento da fecundação. O ser humano já nasce ali, com o seu código genético estabelecido", afirma o médico e téologo do Vaticano. Para a Igreja, uma grande deturpação de linguagem encobre a primeira conseqüência direta deste tipo de pesquisa, ou seja, a morte do embrião. "Estamos assistindo a um jogo de palavras, chamam de pré-embrião o estágio anterior ao da implantação do óvulo. Mas ao final, a prudência estabelece o termo embrião e este já é um ser humano único, que tem o seu projeto de desenvolvimento, a sua autonomia", explica monsenhor Suaudeau.


POSIÇÃO PROTESTANTE
Opinião do pastor Silas Malafaia (vice-presidente da Assembléia de Deus na Penha - RJ)


"Os evangélicos são a favor da pesquisa com células-tronco para fins terapêuticos desde que não sejam embrionárias. Essas células podem, sim, ser tiradas de qualquer parte do organismo como, por exemplo, do cordão umbilical, da medula óssea ou da corrente sanguínea. Existe uma discussão em torno da realização da pesquisa com células-tronco embrionárias, porque, na realidade, muitos cientistas não estão preocupados apenas com a questão terapêutica, mas com a clonagem humana. Isso é muito perigoso, porque o homem quer brincar de Deus, mas ele não é Deus. Nenhum cientista tem o domínio absoluto da manipulação genética. Se o homem insistir nisso, pode acontecer num futuro próximo, essa manipulação genética acabar por gerar genes defeituosos, que não apareceram ainda até hoje. Esse gen defeituoso poderá perpetuar na raça humana e, nas gerações futuras, gerar um problema a mais para a humanidade. A complexidade da vida e do ser humano é absurda. Um único filamento de DNA de uma única célula humana tem informação para preencher uma biblioteca de cerca de 1000 livros. Isso é apenas para você ver a complexidade que você é. Se os cientistas conseguissem uma tecnologia de ampliar o diâmetro de uma célula em um milhão de vezes, a descoberta científica seria tão fantástica, que jogaria quase todo o conhecimento sobre o ser humano por terra. Apesar de toda a tecnologia que e de todo avanço científico, sabe-se muito pouco sobre o homem, dada à sua altíssima complexidade. O cérebro humano possui 10 bilhões de células que são interligadas por algo em torno de 10 mil a 100 mil ramificações. Não há tecnologia que reproduza a estrutura de comunicação do cérebro. A vida começa na concepção e ela é contínua. Isto é um fato científico e não religioso. É um fato comprovado pela biologia, pela medicina fetal, pela genética e pela embriologia. O embrião é humano porque na sua evolução ele não pode se transformar em outra coisa que não seja humano. Nenhum corpo vivo pode tornar-se pessoa a não ser que já seja uma pessoa. A diferença entre o óvulo fecundado e você é o tempo e a nutrição".

Opinião do pastor batista e presidente da ONG, Ariovaldo Ramos
"Para o protestantismo, de modo geral, a vida começa na fecundação. Somos contra qualquer forma não natural de cessação da vida. Entretanto, há entre nós os que entendem que, diante do descarte de vários embriões, a utilização destes para as tais células-troncos com fim terapêutico pode ser, no final, a única dignificação possível para essa curta existência. Diante de uma prática equivocada, porém generalizada, nas clínicas de fertilização, dos males o menor. De modo geral o protestantismo é criacionista, porém só os fundamentalistas lutam pela substituição do ensino do evolucionismo pelo criacionismo nas escolas. Há também, entre os protestantes, os que crêem numa evolução controlada por Deus - uma versão do Design Inteligente".

POSIÇÃO ESPÍRITA:
Opinião do representante espírita João Batista Prates Soares de Vitória da Conquista - BA.


"A posição do espiritismo está ao lado do progresso. O uso do embrião para uso das células-tronco é um ponto negativo da pesquisa. Para os espíritas, a reencarnação é um processo que se inicia a partir da união das duas células na fecundação. A ciência descobriu que as células-tronco existem em várias partes do corpo, agora, recentemente, nos dentes de leite, sangue menstrual, tecido adiposo, entre outros. Por que buscar no embrião se há outros métodos? A doutrina espírita é a favor do progresso da humanidade. Tem outro aspecto importante: os embriões não viáveis. Eles, teoricamente vão para o lixo. Se eles são inviáveis, eles poderiam ser utilizados. Só que para se chegar a isso, há muitos riscos. A pesquisa com células-tronco tem que ser respaldada pela ética, moral e responsabilidade. Essa pesquisa com células-tronco está apenas engatinhando. É necessário respeitar as leis da ética. Cristo não vai de encontro à ética. Ele dá a humanidade alternativas. Não devemos atropelar as leis que regem a ordem social. O espiritismo é tranqüilo e é a favor das descobertas. Não somos radicais".

POSIÇÃO BUDISTA
Monja Coen Sensei, missionária oficial da tradição Soto Shu - Zen Budismo


"A ciência é o que vai facilitar a melhor qualidade de vida no planeta. Acho que ninguém sabe exatamente quando começa a vida humana. Para mim isso é um contínuo. Não é quando o óvulo e o esperma se unem, mas já existia nos avós, bisavós, tudo está interligado. Há mais idéias além da teoria de Darwin e da idéia de que Deus criou tudo, o criacionismo. Mas o budismo não tem um conceito de Deus, um criador. Nós dizemos que nós somos o processo da vida do Universo com uma lei de causalidade, o que nós chamamos de origem dependente. E nós não temos a noção de que o homem é o centro da criação, no budismo nós somos apenas uma forma de vida que depende das outras formas de vida. Assemelha-se mais ao darwinismo do que à criação divina".

POSIÇÃO DO HINDUISMO
Swami Krishnapriyananda, Sociedade da Vida Divina Brasil, linhagem Smarta do hinduísmo


"A filosofia do Sanatana-Dharma, ou hinduísmo, é ampla e variada. Também há 'hindus' fanáticos, que agem numa paranóia de proibições, esquecendo-se dos ensinamentos dos Vedas (escrituras). As Escrituras falam que o semideus Senhor Brahmaa, primeiro ser humano criado pelo Supremo, criou o mundo material e todas as criaturas que nele vivem. Não há nenhum conflito com o que Darwin ensina e os Vedas ensinam. Apenas as idéias defendidas por Darwin fixam-se na evolução objetiva, desconhecendo a evolução subjetiva da consciência do Supremo. O hinduísmo não proíbe a pesquisa genética. As pesquisas que envolvam embriões de corpos humanos e outras espécies deverão ter um fim de bem-comum, onde o bom-senso deverá estar presente".

POSIÇÃO DO ISLAMISMO
Sheik Ali Abdouni, presidente da Assembléia Mundial da Juventude Islâmica.


"O Islã se preocupa com o ser humano na sua totalidade, portanto a ciência é uma das questões importantes da vida. A religião islâmica permite que sejam feitas experiências científicas para trazer um benefício para a sociedade e uma qualidade de vida melhor, mas coloca regras e normas para que ninguém ultrapasse os limites. Quanto ao uso de células-tronco, é permitido contanto que não haja venda delas, nem uso inadequado e que a experiência tenha grande possibilidade de dar certo. Para o Islã a vida começa aos 120 dias de gestação, pois é quando a alma é soprada no feto. De acordo com a religião islâmica, tudo foi criado por Deus, mais ou menos da mesma forma como acreditam as religiões monoteístas. O Islã é contra a Teoria da Evolução".

POSIÇÃO DO JUDAISMO
Rabino Henry Sobel, presidente do rabinato da Congregação Israelita Paulista

"A ciência e religião se completam: sem a ciência a religião é cega, sem a religião a ciência é aleijada. A meu ver, o uso de células-tronco embrionárias para pesquisa científica deve ser não só permitido como incentivado. Embora o embrião seja uma vida em potencial, e como tal não possa ser levianamente eliminado, não podemos privar a sociedade das inúmeras possibilidades terapêuticas que o embrião representa a pretexto de protegê-lo. Acredito que a religião dá a bênção nesse sentido. Também não há conflito entre a Teoria da Evolução e religião. A Bíblia claramente comprova a evolução científica. Deus criou em seis dias de acordo com a Bíblia, do ser vivo mais simples ao ser vivo mais complexo, o ser humano, gradativamente. É um processo evolucionário perfeito".

Obs.: Algumas entrevistas foram pesquisadas na revista Galileu e retiradas no site:http://revistagalileu.globo.com/Galileu/0,6993,ECT1045095-1719,00.html

ESPAÇO DAS CHARGES...










SEM POLÊMICA, PESQUISAS COM CÉLULAS-TRONCO ADULTAS AVANÇAM


Os resultados das terapias com células-tronco adultas no Brasil são muito animadoras. Há diversos núcleos de pesquisas pelo país, inclusive no Paraná destacam-se os trabalhos do Serviço de Transplante de Medula Óssea do Hospital de Clínicas, pioneiro na realização de transplantes usando células-tronco obtidas de cordão umbilical e de medula óssea, coordenados pelo doutor Ricardo Pasquini, e o Laboratório de Engenharia e Transplante Celular da Universidade Católica, dirigido pelo professor Waldemiro Gremski.
O laboratório da PUC é resultado de uma parceria com o Governo do Estado. Atualmente conta com recursos da FINEP, financiadora de projetos do Ministério da Ciência e Tecnologia, bem como da Secretaria de Estado da Ciência e Tecnologia, para realização de pesquisas com células-tronco relacionadas a terapias de cardiomiopatias. Basicamente o objetivo é trabalhar com células-tronco do próprio indivíduo, visando fazer com que elas se diferenciem em célula muscular do coração para implante em pacientes com insuficiência cardíaca ou enfarte.
A pesquisa é inovadora em relação ao que está sendo feito no Brasil. Em outros centros, retiram-se as células sanguíneas da medula através de uma punção, separam-se por centrifugação as células-tronco ali presentes e com o paciente ainda anestesiado elas são reinjetadas por cateterismo no músculo do coração. Isso é o que se faz, por exemplo, no Hospital Pró-Cardíaco do Rio de Janeiro e na Fundação Osvaldo Cruz de Salvador. "Ao contrário do procedimento anterior, nossa proposta é que o paciente ceda a sua célula-tronco, nós a diferenciamos; e ela é injetada no coração já como célula muscular cardíaca. Segundo o professor Waldemiro Gremski, as experiências até agora foram positivas. Não foram testadas ainda em nenhum paciente, mas isso deve ocorrer nos próximos meses.
O laboratório da PUC agrega outros três núcleos de pesquisa envolvendo células-tronco: o que trabalha com células neuronais, visando tratamento para o Mal de Alzheimer, Parkinson e medula seccionada; outro que busca nas células-tronco a diferenciação em células produtoras de insulina; e um terceiro núcleo estuda as células-tronco para a regeneração de válvulas cardíacas. Segundo Gremski, o laboratório não utilizará as células-tronco embrionárias em suas pesquisas enquanto a Igreja não se posicionar a respeito.

Fonte: http://www.cienciaefe.org.br/jornal/e69/Mt01.htm

CÉLULAS-TRONCO: Ciência e Religião



O uso de embriões para pesquisas é um dos temas mais complicados da Bioética, pois envolve o estágio inicial da vida, daí a posição de quase todas as crenças religiosas no sentido de condenar essa nova abordagem. Os cientistas, contudo, apostam nas possibilidades advindas da investigação sobre as células embrionárias, vislumbrando grandes avanços no tratamento e na cura de doenças como Mal de Parkinson e Alzheimer, diabetes, doenças degenerativas e cardíacas, medula seccionada, entre outras.
Pesquisadores, médicos, teólogos, representantes da Igreja, professores e doutores apresentam seus argumentos contra e a favor, para aprofundar o debate sobre uma decisão que surpreendeu mesmo os pesquisadores, já que a questão das células-tronco embrionárias apareceu infiltrada no projeto de lei que contempla majoritariamente as atividades envolvendo os organismos geneticamente modificados. A forma como a novidade foi apresentada levanta também uma série de questionamentos de ordem jurídica e legal, principalmente pela total inexistência no país de uma legislação mais ampla sobre embriões, que regule, por exemplo, a prática da reprodução assistida.

CIÊNCIA
Longe de haver um consenso, o fato é que a lei gerou grandes expectativas e agora os pesquisadores têm sinal verde para trabalhar. Do ponto de vista científico a aprovação da lei foi um avanço.
A utilização terapêutica de células-tronco, e aí se incluem as células-tronco adultas encontradas no organismo e no cordão umbilical, representam uma revolução dentro da Medicina para doenças que se tornam cada dia mais freqüentes e para as quais, hoje, não existe nenhuma esperança de cura.
Com a pesquisa da célula-tronco existe uma esperança - a de que a partir dessas células sejam produzidos milhões de outras do tecido nervoso, e que, implantadas no local da lesão, passariam a cumprir a função de transmitir os impulsos nervosos.
Com as células-tronco existe uma expectativa real de que o diabetes tenha um tratamento e que a pessoa não precise tomar insulina o resto da vida. Até mesmo para o câncer essas pesquisas podem ser animadoras.
Não há dúvidas quanto ao potencial das células-tronco e aos novos rumos que elas podem dar à biotecnologia. A Igreja, inclusive, vê com bons olhos as pesquisas com as células adultas.
O grande dilema é que, segundo os cientistas, o melhor tipo de célula-tronco se encontra no embrião. O poder de diferenciação das células embrionárias é a principal justificativa para que se procedam as investigações nesse campo, mas os cientistas sabem que quanto maior o potencial de diferenciação de uma célula maior é o risco dela dar origem a um tumor.
Ao contrário das embrionárias, as adultas não têm capacidade de se transformar em qualquer tecido do corpo. Em compensação, elas têm seus aspectos negativos reduzidos. A célula adulta, pelo próprio processo da vida, já teve bloqueados vários genes relacionados, por exemplo, a câncer (os chamados oncogenes). E no caso das células-tronco embrionárias, esses genes que podem resultar na formação de tumores, não estão bloqueados, estão absolutamente livres.

RELIGIÃO
Pouco antes da Lei da Biossegurança ser levada à votação, os setores da Igreja foram os primeiros a se mobilizar contra a aprovação do artigo 5º, que autoriza as pesquisas com células-tronco embrionárias. Em carta dirigida aos deputados e senadores, dias antes da votação, a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil clama pelo bom senso dos parlamentares.
A Igreja Católica tem uma posição firme não só contra a utilização de embriões para pesquisas, como contra a própria fertilização in vitro, técnicas de clonagem terapêutica e, evidentemente, contra a clonagem humana. Do ponto de vista do espiritismo, a utilização de embriões em pesquisas também é rejeitada. Segundo a filosofia kardecista, basta o magnetismo dos pais e o desejo do espírito para que se dê a reencarnação. As revelações espirituais dizem que o espírito reencarnante se une ao corpo no momento da concepção, isto é, no instante da formação do zigoto ou célula-ovo, e só o espírito tem o poder de agregar matéria. Portanto, para os espiritualistas, esse processo pode ocorrer mesmo no laboratório. Em princípio, consideram que descartar um embrião fertilizado fora do útero da mãe é o mesmo que promover um aborto. Entretanto, há outra revelação: a de que nem todos os embriões têm um espírito ligado.
O princípio de que a vida começa no primeiro instante da fecundação permeia os fundamentos de muitas religiões, mas é possível encontrar posições mais flexíveis. É o caso do judaísmo, que aplica status diferente ao embrião, ao feto e ao recém-nascido. À medida que a gravidez evolui, o organismo adquire um status superior. Inclusive, se durante a gestação ocorre uma situação em que há um risco de vida para a mãe, o judaísmo privilegia a mãe em oposição ao feto. No começo, até 40 dias depois da fecundação, é como se o embrião fosse apenas água e não vida. Tanto que a pesquisa com embriões, inclusive com uso de células-tronco, bem como procedimentos de clonagem terapêutica, são permitidos em Israel. Mas é importante ressaltar que não se trata de uma postura unânime. Há posições contrárias de judeus ortodoxos que acreditam que a vida começa mesmo no momento da fecundação.

LEGISLAÇÃO BRASILEIRA DE PESQUISA EM EMBRIÕES



Lei de Biossegurança Lei 11135/05
Decreto 5591/05
Resolução ANVISA RDC 29/08

No dia 03 de março de 2005, a Câmara de Deputados do Brasil aprovou, por 366 votos a favor, 59 contrários e três abstenções, a lei que autoriza a pesquisa com células-tronco embrionárias, desde que atendam as seguintes condições: sejam obtidas em fertilização “in-vitro”, e congeladas há mais de três anos, o que já havia sido aprovado no Senado em 2004. Essa aprovação foi incluída na Lei de Biossegurança, que permite a comercialização de produtos geneticamente modificados, ou transgênicos.

LEI DE BIOSSEGURANÇA
Dispõe o artigo 5° da Lei de Biossegurança nº 11.105/05:

“Art. 5o É permitida, para fins de pesquisa e terapia, a utilização de células-tronco embrionárias obtidas de embriões humanos produzidos por fertilização in vitro e não utilizados no respectivo procedimento, atendidas as seguintes condições:
I – sejam embriões inviáveis; ou
II – sejam embriões congelados há 3 (três) anos ou mais, na data da publicação desta Lei, ou que, já congelados na data da publicação desta Lei, depois de completarem 3 (três) anos, contados a partir da data de congelamento.
§ 1o Em qualquer caso, é necessário o consentimento dos genitores.
§ 2o Instituições de pesquisa e serviços de saúde que realizem pesquisa ou terapia com células-tronco embrionárias humanas deverão submeter seus projetos à apreciação e aprovação dos respectivos comitês de ética em pesquisa.
§ 3o É vedada a comercialização do material biológico a que se refere este artigo e sua prática implica o crime tipificado no art. 15 da Lei no 9.434, de 4 de fevereiro de 1997.”

A CONSTITUIÇÃO FEDERAL O que diz:
"Art. 1º - A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado democrático de direito e tem como fundamentos: ... III - a dignidade da pessoa humana; ..."Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à prosperidade, nos termos seguintes: ... III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante; ..." "Art. 6º - São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. (EC nº 26/2000)"


Lei de Biossegurança Lei 11135/05
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Lei/L11105.htm

Decreto 5591/05
Fonte: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Decreto/D5591.htm

Resolução ANVISA RDC 29/08
Fonte: http://e-legis.anvisa.gov.br/leisref/public/showAct.php?id=31098&word=

segunda-feira, 19 de abril de 2010

CÉLULAS-TRONCO: Conflito ético e Avanços nas pesquisas


CONFLITO ÉTICO




As células-tronco podem representar um novo caminho no que diz respeito ao tratamento de doenças degenerativas, já que as pesquisas buscam este objetivo. O estudo das células-tronco pode representar uma nova esperança no modo de tratar tais doenças e, no quesito importância, tem-se aqui o destaque para as células pluripotentes, uma vez que podem se transformar em qualquer célula, tecido ou órgão. Esse caminho objetiva a reposição de células doentes por células saudáveis. Isso envolve uma tecnologia que aproveita todo o potencial dessas células para a cura de lesões, como as de medula, doenças cardíacas, mal de Parkinson, diabetes, muitos tipos de câncer, dentre outras. Isso ainda é um desafio para a ciência que, nos últimos anos, provocou uma onda polêmica em torno da questão ética em diversos países. Alguns deles são muito liberais no quesito pesquisa com embriões: Israel, Cingapura, Reino Unido e China. Outros impõem limites, como no caso do Brasil e EUA, sendo que este último permite pesquisas, mas não concede a elas financiamento federal. A Califórnia, por sua vez, permite e apóia tanto pesquisas quanto clonagem terapêutica. Já a Turquia se parece com o Brasil: não apóia nem permite a criação de embriões para pesquisa, mas autoriza a manipulação de embriões descartados. E há também países que proíbem toda e qualquer pesquisa nesse sentido: a Itália.

A Lei de Biossegurança que foi aprovada no Brasil em 2005 permitiu a pesquisa com células-tronco em embriões obtidos in vitro congelados há mais de três anos, desde que houvesse a autorização dos pais. Pois bem, a controvérsia se refere justamente às células-tronco obtidas a partir de embriões humanos, fato reprovado pelos grupos religiosos que admitem que o embrião já equivale a um ser humano, não podendo ser, então, destruído. Para diversos grupos religiosos não se pode salvar vidas assassinando outras, mesmo que estas ainda não estejam formadas absolutamente. Logo, preparar embriões para qualquer tipo de experiência traria à essência a prática do aborto, proibido aqui no Brasil, salvo algumas exceções. Esse é o alvo de toda a discussão, uma vez que a tecnologia de obtenção das células-tronco embrionárias exige a destruição do feto.

Essa polêmica não gira especificamente em torno de qual momento começa a vida, uma vez que qualquer célula está viva, inclusive o óvulo e o espermatozóide antes da fecundação, mas sim em qual momento realmente um embrião pode ser considerado um ser humano. Diante desses fatos, em 2005 Cláudio Fonteles, o então procurador-geral da República, deu entrada contra pesquisas com células-tronco embrionárias no país. Segundo sua posição, o ser humano não se inicia somente após o blasctocisto, já que a vida humana passa por diversas fases. Em uma de suas opiniões no jornal Folha de São Paulo, março de 2009, ele confirmou: “... é primeiramente embrião, depois feto, bebê, criança, jovem, adulto, velho”. O ser humano não nasce pronto ou quase pronto. É um processo. Para que a vida se concretize em sua plenitude há um seguimento absolutamente incrível, sendo assombroso e ao mesmo tempo sublime.

Já os que são a favor das pesquisas pensam que qualquer tecido ou órgão constituído a partir de células-tronco embrionárias será um material de reposição perfeito para ser utilizado em pessoas que necessitem substituir tecidos ou órgãos doentes. Para os que são favoráveis, a argumentação segue com a confirmação de que o uso de embriões descartados não é uma forma de agressão à vida, mas uma forma de lutar a favor dela. Para eles, os fetos que estão congelados há muitos anos não originarão nenhum ser humano e o trabalho com células tronco embrionárias poderá um dia ser tão comum como a prática de um transplante de rim ou de coração, por exemplo.

A cura com as células-tronco ainda é um passo difícil de dar, pois o impasse se faz presente porque há toda uma discussão ética envolvida quando se fala nessa questão. No entanto, se as pesquisas não avançarem, jamais se terá a cura que a qual os homens buscam.


AVANÇOS NAS PESQUISAS




As células-tronco adultas são muito mais utilizadas no combate a doenças degenerativas, uma vez que o tratamento com as células embrionárias ainda é motivo de muitas discussões. O poder que as células-tronco tem de devolver a visão a quem corre o risco de perdê-la, recuperar movimentos perdidos com a esclerose múltipla, rejuvenecer rostos envelhecidos pelo tempo sem cirurgia, dentre outras coisas, é surpreendente. Assim, a possibilidade de viver melhor tem motivado pessoas do mundo inteiro a serem tratadas com células-tronco. No Brasil, este tratamento tem trazidos resultados positivos. Há exemplos de casos, que em cinco anos de tratamento, pessoas com dificuldade de movimento puderam andar sozinhas, comer alimentos antes proibidos, devido a consequências graves no organismo; nadar, calçar tênis e outras atividades corriqueiras que, para elas eram impossíveis de realizar. O efeito das células-tronco é mais promissor quando se inicia a doença e não quando ela está instalada no organismo há muito tempo, já que quando a doença se faz presente por longo período, há sequelas e o tratamento fica muito mais difícil. O incrível potencial dessas células já curou leucemia, melhorou a vida de quem teve problemas cardíacos e livrou o agravo do diabetes em pessoas que sofriam deste mal. Até em animais tratamento com células-tronco já curou lesões graves. Hoje, já se sabe tais células são encontradas também na polpa dentária do dente de leite, no tecido adiposo e no sangue menstrual. Porém, tem que estudar esse tema com muita cautela, uma vez que há um longo caminho pela frente para realmente saber o verdadeiro potencial e as consequências de se tratar doenças com as células-tronco. Pelo menos isso é o que dizem os especialistas no assunto.

No que diz respeito ao avanço dos estudos sobre células-tronco, é notável destacar aqui as recentes descobertas do cientistas da USP no Brasil. Eles conseguiram produzir pequenos ossos em cobaias. Pedacinhos de ossos da cabeça de ratos foram retirados e com o implante de células-tronco nessa área, esses ossos foram reconstituídos num prazo de 20 dias. Isso é uma grande esperança para quem tem problema nos ossos, principalemte no crânio ou face. Mayana Zatz, genticista, a maior pesquisadora do assunto no Brasil diz: "estamos na fase de pesquisas, o que é muito importante para não arriscar a vida dos pacientes. Mas o importante é que nós estamos caminhando" (Jornal da record, 20 de março de 2010). Toda a revolução da medicina em torno desse tema está para um futuro próximo.

Pela capacidade de as células embrionárias se transformarem em diversos tipos de tecidos, boa parte dos cientistas preferem trabalhar com elas ao invés da céluas-tronco adultas, mesmo diante de toda a discussão que elas proporcionam. Pelo menos por enquanto, as células-tronco embrionárias não são usadas em experiências com humanos e poucas instituições são capazes de fabricá-las. Recentemente também foi produzida em laboratório a primeira linhagem de células-tronco embrionárias totalmente nacional: uma parceria do Instituto de Biociências da USP juntamente com o Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ. Até então, elas eram importadas para pesquisas, (Atualidades Vestibular 2010 - p. 203).

As pesquisas com células-tronco embrionárias ainda se iniciam e nem alcançaram o próprio organismo humano. Até que isso aconteça muitos passos têm que ser alcançados: selecionar células específicas para cada problema; cultivá-las; ter um controle sobre sua multiplicação, bem como sua diferenciação; garantir que a atuação dessas células seja apenas sobre os tecidos lesados e que necessitam de cura. Sabe-se que o progresso alcançado em seres humanos foi alcançado apenas com células-tronco adultas, como as retiradas da medula óssea e sangue, mas sabe-se também que elas não se diferenciam tanto quanto as embrionárias.

Na realidade, se conhece pouco sobre as células-tronco e não se dominam elas completamente pra o seu controle total. Tem que conhecê-las a fundo para que sua capacidade de multiplicação não dê origem a tumores. É o que diz a biomédica Marimélia Porcionatto, da Universidade Federal de São Paulo - Unifesp, (Atualidades Vestibular 2009 - p. 202).

Nem mesmo a técnica da indução da pluripotência, (regressão da célula-tronco ao seu estado embrionário) oferece ainda segurança para o uso em seres humanos, justamente em virtude dessa manipulação genética se relacionar com o aparecimento de tumores.

Para saber se as células-tronco são o futuro da medicina terapêutica, veja o que responde James Edgar Till, o próprio descobridor delas: “previsões muitas vezes se provam erradas. De qualquer modo, eu espero que notícias muito boas virão da pesquisa de alta qualidade com células-tronco. Eu também espero que haverá muito poucas más notícias. Exemplo de má notícia é a ciência fraudulenta e falsa. Também o são más notícias os testes clínicos mal-planejados -- como aqueles sem grupo de controle, sem examinadores independentes e sem relatos na nobre literatura revisada. A pesquisa de baixa qualidade pode não apenas provocar muitos danos aos pacientes, mas também minar a credibilidade de todos os tipos de pesquisas com células-tronco. Isso seria uma notícia péssima”, (http://www.celula-tronco.com/).




Conhecimento humano associado à ciência:
uma aliança para o progresso da humanidade